Festas Literárias,um meio eficaz para vender e divulgar livros dos autores
VIDA DE EDITOR
“-Jesus, menina,como é que você
que tem uma vida tão tranquila se meteu com esta josta de editora?
Quer criar um inferno ,aqui,quer?
Não basta aquele que com certeza você foi escalada e virá após a morte ,pois,lá
no céu não gostam de irreverentes nem questionadores ,como você?!”
Pois é,eu poderia ter seguido o conselho deste
bom amigo e ficar apenas
blogando,escrevendo para sites e publicando livros.
Eu podia,como diria Mestre Raul,o
Seixas,ficar satisfeita com meu salário mensal e até comprar um Corcel /73,se
ainda encontrasse algum em bom estado.
Mas,procurando sarna pra me
coçar, resolvi editar livros,meus e dos outros.Uns corajosos,como meu amigo
Cacá ,lá das Minas Gerais e uns outros
que seguiram esse caminho da confiança e da esperança; esperança de receber
livros bem feitos, bem editorados,sem borrões,
cujas páginas não soltassem e a tinta não manchasse os dedos.
Por se tratar de uma editora
baiana, cuja dona é uma baiana setentona,muita gente torceu o nariz.
-Que nada,coisa boa só vem do
sudeste.
O caso é que nem todos têm tempo,temperamento ou paciência para ter
uma editora; é quase um trabalho monástico, de doação, que ocupa cerca de doze
horas do seu dia.
Pois,parir um livro é um parto
difícil;e,no Brasil,além de difícil, caro e arriscado.
Primeiro a gente tem que
conquistar a confiança do autor,principalmente,no caso das editoras como a
minha que recebem dinheiro dos autores para publicar seus livros.
Recebido o dinheiro e o
arquivo,começa a gestação.
O livro precisa ser,não apenas
revisado,mas,copidescado,diagramado
e precisa ter uma capa.
Daí,temos que escolher uma
gráfica, onde começa nosso calvário,sem direito a verônicas nem cireneus.
Gráficas começam a ser o caminho
onde todo editor se enlameia .Sempre digo que o problema do escritor é a
gráfica e o problema da gráfica é a editoração.É lá que as palavras se
perdem,os arquivos viram de ponta cabeça e o capítulo 17 vai parar junto ao 64 que contém um finalzinho que
deveria estar no capítulo 84.
Duvida,cara pálida?
Pois aconteceu comigo.E, se eu
não fosse essa neurótica que lê tudo,olha tudo e fiscaliza tudo, a vaca teria
ido direitinho para o brejo.
E a reputação da editora ia
junto.
Eu até mudei os versos do poeta :
Vigiai,diz Salomão
noite e dia a editoração.
Pois é dela que nos vem,
Todo mal e todo bem.
Para parir um livro temos três
tipos de parto:
O Normal:
Recebe-se o arquivo,o autor paga,
a gente encaminha para a a diagramação
,para o capista,o autor aprova,céu de brigadeiro.
Na gráfica,tudo perfeito. A “boneca”
veio correta, o autor aprovou,o livro vai para a gráfica e sai legal.
Deo gratias!
O parto demorado é aquele que o
bebê livro fica atravessado:atravessa a diagramação, a capa é trocada várias
vezes por desejo do autor,muda-se a cor , troca-se a orelha, a boneca vem cheia
de erros ,volta,torna a voltar,depois de tudo pronto o autor quer mudar ou
tirar alguma coisa,volta tudo á estaca zero,enfim,o livro é impresso.Pois
,acreditem,tem autores que pensam que livro é vestido de casamento;muda isto,aumenta
o comprimento,aperta aqui,põe uma rendinha
lá...
Aleluia!
O parto cesariano ou de fórceps é
aquele que tudo dá errado;revisão com erros,diagramação modificada várias
vezes,diagramador exausto e jurando não
fazer mais nada,editor arrancando os cabelos,prazos vencidos, capa não aprovada
e até o bendito código de barras que vem pronto junto com o ISBN,questionado
pelo analista.
Sobrevivendo a ameaça de infarto
,o editor liga para os responsáveis,pra
gráfica e solta os cachorros.
A gráfica manda de volta o
arquivo.Errado; vamos questionar o diagramador que prova a você que enviou
certo.
Vade retro,Satanás!
Nesta altura,vendo tudo
vermelho,você entra na sua salinha secreta e faz meditação zen.
Só lhe resta rezar para o santo
protetor dos editores (se é que existe algum besta que queira assumir esta
função) e pedir para o resto correr bem.
Enfim, o livro chega
certinho,lindo,cheiroso,colorido, pronto para as livrarias.
E, aí começa outra parte da novela,vender o livro.
Ainda quer virar editor, cara
pálida?
Um dia ainda chuto o pau da barraca,pego num fuzil e vou pro
Afeganistão.
É bem mais tranquilo.
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