MONTEIRO LOBATO, UM HOMEM MULTIFACETADO
Para se falar de um homem que não é um só, mas,muitos,
melhor começar pelo começo.
José Renato Monteiro Lobato nasceu em Taubaté, São Paulo ,na
fazenda Buquira do seu avô, o Visconde
de Tremembé, rico e influente fazendeiro
de café, a18 de abril de 1882, filho de José Bento Marcondes Lobato e de
D. Olímpia Augusta Lobato.
Foi alfabetizado pela mãe e por um professor particular.
Aos 11 anos foi transferido para o Colégio São João
Evangelista; em dezembro de 1896 foi para
S. Paulo e logo depois de passar
nos preparatórios cursou o Colégio Paulista,aproveitando o ensejo para fazer
suas primeiras incursões literárias colaborando com alguns jornais estudantis
sob o pseudônimo de Josben e Nhô Dito sendo o seu fino humor, à inglesa,
elogiado pela revista FonFon e pelo jornal “O Estado de São Paulo”.
Espírito inquieto foi um dos fundadores do Cenáculo com
os amigos Godofredo Rangel e Tito Lívio.
Obedecendo aos anseios do avô,formou-se em Direito e foi
promotor em Areias,interior de S. Paulo.
Mas, seus verdadeiros interesses eram as artes, a pintura
,a caricatura a qual transformou em fonte de renda.
Casou-se com D. Pureza, prima distante e teve quatro
filhos: Marta,Edgar,Guilherme e Rute.
A personalidade de Lobato,um homem sem meias
palavras,honesto, verdadeiro,sem papas na língua,incomodava os conservadores e
o seu nacionalismo,num pai s que
cultivava o estrangeirismo, causava espécie aos meios mais elitizados.
Lobato transferiu para seus “alter-egos”, a boneca Emília
e, mais tarde,Miss Jane, personagem do livro profético , “O Presidente Negro”,
muito da sua personalidade e do modo de sentir o mundo.
Homem de múltiplos interesses, Lobato era também editor.
Essa idéia nasceu da compra da “Revista do Brasil” onde
publicava artigos polêmicos como “A Velha Praga”,um libelo contra as queimadas.
Daí começou a Companhia Editora Nacional que revolucionou
o mercado editorial brasileiro como se pode observar nestes textos do seu maior
biógrafo Edgar Cavalheiro:
É quando surge Monteiro Lobato. Tendo
impresso por sua conta, nas oficinas d’ O Estado de São Paulo, mil exemplares
de Urupês, verificara, ao ter os volumes prontos para venda, que em todo o
território nacional existiam somente trinta e poucas casas capazes de receber o
livro. Não era possível, por tão poucos canais, o escoamento daquilo que se lhe
afigurava um despropósito de volumes. Dirige-se, então, ao Departamento dos
Correios, solicita uma agenda e constata a existência de mil e tantas agências
postais espalhadas pelo Brasil. Escreve delicada carta-circular a cada agente,
pedindo a indicação de firmas ou casas que pudessem receber certa mercadoria
chamada ‘livro’. Com surpresa recebe respostas de quase todas as localidades.
De posse de nomes e endereços assim obtidos, procura entrar em contato com os
possíveis clientes, escrevendo-lhes longa circular, portadora de original
proposta: ‘Vossa Senhoria tem o seu negócio montado, e quanto mais coisas
vender, maior será o lucro. Quer vender também uma coisa chamada livro? V. Sª
não precisa inteirar-se do que essa coisa é. Trata-se de um artigo comercial
como qualquer outro, batata, querosene ou bacalhau. E como V. Sª receberá esse
artigo em consignação, não perderá coisa alguma no que propomos. Se vender os
tais ‘livros’, terá uma comissão de 30%; se não vendê-los, no-los devolverá
pelo Correio, com porte por nossa conta. Responda se topa ou não topa’.
Segundo Edgar Cavalheiro, o expediente lobatiano funcionou
perfeitamente, pois:
“Quase todos toparam, e Lobato passou
dos trinta e poucos vendedores anteriores, que eram as livrarias, para mil e
tantos postos de vendas, entre os quais havia lojas de ferragens, farmácias,
bazares, bancas de jornal, papelarias. O comércio de livros, que modorravam
numa rotina galega, ganha impulso insuspeitado. As edições, que antes não
ultrapassavam 400 ou 500 exemplares, e assim mesmo muito espacejadas, pulam
imediatamente para três mil exemplares, e começam a surgir quatro, cinco, seis
e até mais livros por mês.”
Antes de Lobato, o livro ,no Brasil, era
sacralizado,produção para poucos escolhidos e os exemplares impressos na França
ou Portugal.
Só os medalhões tinham vez.Não havia uma renovação
literária.
Durante o período que Lobato esteve no
comando literário das editoras Monteiro Lobato & Cia e Companhia Editora
Nacional pelo menos 50 novos escritores foram apresentados ao público.
Muitos deles se tornaram mais tarde os
principais propagandistas do modernismo brasileiro. A lista é extensa e
variada. Foram editados nomes como: Godofredo Rangel, Paulo Setúbal, Menotti
Del Picchia, Guilherme de Almeida, Cornélio Pires, Afrânio Peixoto, Coelho
Neto, Oliveira Viana, Pedro Calmon, Gastão Cruls, Rodolfo Teófilo, Papi Júnior,
Oswald de Andrade, Tales de Andrade, Eduardo Carlos Pereira, Oswaldo Orico, Cesídio
Ambrogi, Carlos Dias Fernandes, Djalma Andrade, Alberto Seabra, Otto Prazeres,
Lucílio Varejão, Sud Menucci, entre outros.
Lobato era também tradutor e publicou
livros polêmicos como “A luta pelo petróleo”, de Essad Bay.
Em 1918 publicou “Urupês”,um retumbante
sucesso citado até por Ruy Barbosa,que considerou Jeca Tatu,um protótipo do
brasileiro pobre, sem esperanças abandonado à miséria pelos governos.
Na esteira deste sucesso publicou
“Cidades mortas” e Idéias de Jeca Tatu”.
Em 1920, desiludido dos adultos,migrou
para a literatura infantil,escrevendo “A menina do narizinho arrebitado”,Lúcia,
que nunca foi re-editado,hoje considerado obra rara.
Reapareceu tempos depois, um pouco
modificado como “Reinações de Narizinho”.A maioria das suas estórias in fantis
passava-se no Sítio do Picapau Amarelo,no interior do Brasil,tendo como
personagem D,Benta,uma sábia senhora,seus netos, Narizinho e Pedrinho e Tia
Nastácia,faz-tudo da casa e símbolo da sabedoria popular, por quem o escritor tinha
um imenso carinho.
Esses personagens foram complementados
por entidades criadas pela imaginação do autor, como Emília,a irreverente boneca falante,o aristocrático Visconde de
Sabugosa,a vaca Mocha,o saci, o burro Conselheiro,a Cuca, o porco Rabicó e o rinoceronte Quindim,além
do Príncipe Escamado, do Reino das Águas Claras.
As crianças do sítio visitavam e eram
visitados por todos os personagens das estórias infantis, como Peter
Pan,Pinóquio,e Chapeuzinho Vermelho e a Bela Adormecida.
A moda de dona Benta ler era boa. Lia
“diferente” dos livros. Como quase todos os
livros para crianças que há no Brasil
são muito sem graça, cheios de termos do
tempo do onça ou só usados em
Portugal, a boa velha ia traduzindo aquele
português de defunto em língua do Brasil
de hoje. Onde estava por exemplo,
“lume”, lia “fogo”; onde estava
“lareira” lia “varanda”. E sempre que dava com um
“botou-o” ou “comeu-o”, lia “botou
ele”, “comeu ele” – e ficava o dobro mais
Interessante.
Em Reinações de Narizinho, o
episódio da visita ao Reino das Abelhas é
exemplar para a concepção lobatiana de
homem livre. Transcrevamos o diálogo
entre Narizinho e Emília:
– Já reparou, Emília, como é bem
arrumado este reino? Uma verdadeira maravilha
de ordem, economia e inteligência!
(...) O que admiro é como as abelhas sabem
aproveitar o espaço, (...) economizar
cera, tudo dispondo de modo que a colméia
funcione como se fosse um relógio. Ah,
se no nosso reino também fosse assim...
Aqui não há pobres nem ricos. Não se
vê um aleijado, um cego, um tuberculoso.
Todos trabalham, felizes e contentes.
(...)
– E quem manda aqui? Quem é o
delegado?
– Ninguém – (...) Tenho notado que
muitos dos personagens das minhas histórias já andam
aborrecidos de viverem toda a vida
presos dentro delas. Querem novidade. Falam
em correr mundo a fim de se meterem em
novas aventuras. Aladim queixa-se de
que sua lâmpada maravilhosa está
enferrujando. A Bela Adormecida tem vontade
de espetar o dedo noutra roca para
dormir outros cem anos. O Gato de Botas brigou
com o Marquês de Caraibas e quer ir
para os Estados Unidos visitar o Gato Félix.
.
De fato, o Pequeno Polegar foge de sua
história e se torna bobo da corte no
Reino das Águas Claras, onde adota o
nome de gigante Fura-Bolos.
Como se vê, Lobato desmistificou a
obsoleta literatura p/ crianças e lançou um novo modo de estórias contadas como
só nossas avós sabiam fazer.
Polêmico,irreverente,político, Lobato
venceu todas as armadilhas criadas pela vida e por seus pensamentos
nacionalistas e liberais,enfrentou a prisão, mas,tirou de letra todos esses
inconvenientes com o tamanho do seu gênio.
Morte:4 de julho de 1948 aos 66 anos.
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